O Festival Novas Invasões arrancou, esta quinta-feira, em Torres Vedras. O primeiro dia apresentou uma fusão entre as recriações que evocam o passado das Invasões Francesas e a programação contemporânea do evento, que tem a Alemanha como país convidado.

Um dos espetáculos em destaque no primeiro dia esteve a cargo da companhia Theater Titanick, sediada em Münster e Leipzig. Os 21 elementos do grupo germânico chegaram a Torres Vedras na segunda-feira para preparar Sonnambulo, uma performance multidisciplinar que já passou pela Alemanha e pela Polónia e que fez encher o Parque do Choupal na primeira noite do Novas Invasões.

“É sempre um desafio, porque chegas a um parque e tens de criar o teu próprio palco” explicou Uwe Köhler, diretor da companhia, que teve três dias para criar 14 quadros vivos inspirados em Hieronymus Bosch e Pieter Bruegel. Cenas que, ao invés de contar uma história, levaram o público numa viagem entre sonho e realidade, convidando à interpretação individual de todos os que rumaram ao Parque do Choupal.

Entre as personagens encontrava-se a mulher-peixe, protagonizando uma interminável busca pela água, e o barqueiro, representando a ligação entre o mundo dos vivos e dos mortos. Contradições que procuram ser reflexo da realidade, à semelhança do que Bosch procurava ao representar a dualidade entre Inferno e Paraíso. Acima de tudo, explicou Köhler, Sonnambulo pretende incitar à reflexão sobre a natureza. Na sua opinião, “queremos ouvir a natureza, mas não o conseguimos fazer.”

 

Um percurso pelo centro histórico

O primeiro dia do Festival Novas Invasões ficou marcado pela cerimónia de abertura, que teve início no Forte de São Vicente. Na ocasião, Carlos Bernardes, presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, destacou a “importância das Linhas de Torres Vedras para um território que liga o Atlântico ao Rio Tejo”, destacando o papel do Festival na promoção deste património. O momento contou com a presença de Pedro Machado, Presidente do Turismo Centro de Portugal, José Alberto Quintino, presidente da Câmara Municipal de Sobral de Monte Agraço, e Rute Miriam, vice-presidente da Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos.

“Vamos ter quatro dias muito intensos, são mais de 140 atividades, mais de 100 entidades parceiras e mais de 50 voluntários que estão a dar o seu contributo para o Festival” sublinhou Carlos Bernardes, recordando a “massa humana de várias geografias” que integra a programação do evento. Ao disparo simbólico de um colorido canhão criado especialmente para o momento, seguiu-se um cortejo marcado pelo ritmo da percussão e da música dos gaiteiros, que desceu do Forte até ao cerne do evento: o Mercado Oitocentista, no Largo de São Pedro, composto por cerca de 70 bancas, que recria o quotidiano da época das Invasões Francesas.

O património associado às Linhas de Torres Vedras dá o mote ao Festival, cujo nome invoca um passado que marcou as gentes deste território. Uwe Köhler confessa que, a princípio, o nome “Novas Invasões” suscitou a sua desconfiança. “Mas quando ouvi o conceito pelo João [Garcia Miguel] e o que significa, depois de ler a história sobre o passado de Torres Vedras, fez sentido chamá-lo assim e dar a possibilidade a artistas de diferentes países de fazer intervenções artísticas, ‘invasões’, na cidade.”

Esta sexta-feira é a vez de Jonas Runa apresentar Space Invaders, às 24h00, no Largo Infante D. Henrique (junto ao Chafariz dos Canos). Em causa está uma performance inédita, concebida especificamente para o Festival, com uma segunda sessão marcada para amanhã. As atenções estarão centradas no “Oumuamua”: um fato de luz criado em colaboração com a designer de moda Alexandra Moura. Afinal, “Oumuamua” é o nome do primeiro objeto interestelar detetado ao passar pelo Sistema Solar – mensageiro de um passado remoto e distante, que pôde ser alcançado pela humanidade.